Lista/Grade

Tempo, ritmo e timing

As diferenciações e a lógica de funcionamento conjunto dos três elementos responsáveis pela eficiência do swing de alto rendimento

Swing de Luke Donald: um dos mais técnicos e elegantes do PGA Tour

Swing de Luke Donald: um dos mais técnicos e elegantes do PGA Tour

Do ponto de vista da geração de energia para impactar a bola, qualquer swing de golfe – não importando estilo, época ou lugar – é sempre uma equação variável entre a aplicação da força centrífuga gerada pelo taco (preponderante nos swingers, a exemplo de Sam Snead) e a utilização dos grandes músculos (preponderante nos hitters, a exemplo de Arnold Palmer).

Para essa mescla das duas formas de geração de velocidade na cabeça do taco funcionar é imprescindível que o atleta encontre o equilíbrio entre tempo, ritmo e timing.

Um grande exemplo desse equilíbrio foi o swing de Mike Austin, que até hoje detém o recorde mundial de distância em um torneio oficial do PGA Tour. Em 1974, Austin bateu um drive de 515 jardas durante o U.S. National Seniors Championship, no Winterwood Golf Course (hoje chamado de Desert Rose), em Las Vegas. Era um par 4 de 450 jardas, e a bola parou 65 jardas atrás do green, bem próximo ao tee do buraco seguinte.

A distância, por si só, já é surpreendente, mas torna-se inacreditável levando-se em conta a idade de Austin naquele dia memorável: 64 anos – e torna-se ainda mais inverossímil quando lembramos de seu equipamento precário para os padrões atuais: um driver com vara de aço extra-stiff e cabeça de persimmon com loft de 10 graus, e uma bola com cobertura de balata.

Para entendermos como “milagres” como esse são possíveis, vamos definir e explicitar os três fenômenos que passam despercebidos à imensa maioria dos golfistas.

Três elementos distintos

Tempo é a duração do swing desde a saída da bola (takeaway) até o impacto. Por exemplo, o tempo de Tiger Woods é de 01.6 segundo; enquanto o de Bernard Langer é de 0.933 segundo. Dentro do tempo está o ritmo, que é a variação de velocidade do taco durante sua trajetória.

Agora, a primeira distinção importante: Tiger e Langer têm tempos diferentes, mas o mesmo ritmo: velocidade lenta no takeaway e no início do downswing, com o taco chegando à velocidade máxima só quando está bem próximo da bola. Segunda distinção importante: um jogador de handicap 30 pode ter o mesmo tempo de swing de Tiger ou Langer, mas certamente terá ritmo bem diferente: takeaway rápido, início de downswing abrupto e desaceleração próxima ao impacto.

Já o termo timing não designa a duração do swing (isso é o tempo) e nem a variação da velocidade do taco (isso é o ritmo), mas a realização dos movimentos certos na hora certa. Ben Hogan define assim o timing apropriado para seu estilo de swing: “O downswing começa com o giro de quadris para a esquerda. Depois, os ombros, braços e mãos – exatamente nessa ordem, vão liberar a potência. É essa reação em cadeia que dará a velocidade necessária ao taco”.

Tempo, ritmo e timing trabalham em conexão. Vejamos a explicação de Al Gerberer: “Ritmo é a variação de velocidade de seu swing, a qual dá consistência ao conjunto de movimentos, gerando o timing que é tão essencial para um contato sólido na bola”. Desse modo, chegamos à fórmula de Jack Nicklaus e de todos os grandes mestres: Tempo + Ritmo = Timing. Essa fórmula possibilita o aproveitamento de toda a energia gerada pela força centrífuga aplicada ao taco e pelos grandes músculos, e o resultado é potência e controle.

A ilusão de ótica

A concentração de velocidade próxima à bola cria a ilusão de ótica de que os profissionais suingam em câmera lenta, quando, na verdade, estão batendo com potência, direção e controle. É por isso que o ferro 5 de Fred Couples, batido com a maciez de uma seda, voa no mínimo 200 jardas; e o ferro 3 de Ernie Els, mais tranquilo que seu pitch, vai a 230.

Em compensação, os golfistas que desconhecem ritmo e timing balançam seus tacos rapidamente já no takeway, e depois já no início do downswing. Desse modo, suas áreas de velocidade máxima estão sempre distanciadas da bola e mais próximas do topo do backswing; e isso leva à desaceleração justamente na hora do impacto, o que explica a falta de distância e controle apesar do swing aparentemente veloz e potente.

A imutabilidade do ritmo

“Cada jogador tem seu ritmo, de acordo com seu temperamento”. Essa afirmação equivocada foi repetida durante décadas em todas as partes do mundo; mas isso se devia à ausência de pesquisas científicas. Era, portanto, um desconhecimento justificável.

Porém, desde 2004 sabemos que o ritmo dos grandes jogadores, de todas as épocas e estilos de swing, sempre foi exatamente o mesmo: 3×1, três unidades de tempo desde a saída da bola até o topo do backswing, contra uma unidade desde o topo até o impacto.

John Novosel descobriu e provou isso utilizando a divisão de 30 frames (quadros) por segundo das películas de cinema. Primeiro, ele constatou que Jan Stephenson tinha o mesmo ritmo com todos os tacos: 27 frames para o backswing e 9 frames para o downswing, totalizando 36 frames, ou 1.2 segundo. Depois constatou que Gary Player e Colin Montgomerie têm ritmo de 21/7; Sam Snead, Tiger Woods e Michelle Wie, 24/8; e Jim Furyk, David Toms e Hal Sutton, 27/ 9. Todos, portanto, dentro da razão rítmica de 3×1. Essa constatação destruiu de vez o mito de que cada jogador tem seu “próprio” ritmo.

Ensinar o ritmo

A consequência lógica da descoberta da imutabilidade do ritmo, afirmam especialistas como o próprio Novosel, deveria ser seu ensino, do mesmo modo como o aluno é informado sobre elementos técnicos como grip e alinhamento.

Mas não é o que ocorre; e o prejuízo trazido por esse incentivo ao desconhecimento é o seguinte: o aluno faz um bom grip, posiciona-se correta e atleticamente, mas executa o backswing e o downswing de modo brusco (sem ritmo), destruindo a construção técnica que realizou no setup. Isso porque a velocidade excessiva tira-o do eixo, comprometendo seu equilíbrio e descoordenando sua movimentação (falta de timing), levando-o a acertar a bola de modo sofrível. No desconhecimento da origem de seu problema, o aluno vai desconstruir seu swing – ou parte dele – várias vezes, e sempre inutilmente, pois fora do ritmo a “musicalidade” do swing jamais acontecerá.

PARA SABER MAIS

Sobre a imutabilidade do ritmo: The Tour Tempo, de John Novosel, obra divisora de águas, no tema.

Sobre os três elementos em conjunto: Tempo – Golf´s Master Key, do golfista Al Gerberer, primeira obra a tratar séria e longamente do ritmo.

Sobre a fórmula Tempo + Ritmo = Timing: Capítulo 7 de Golf My Way, de Jack Nicklaus.

Sobre a força centrífuga liberada pelo ritmo e timing: Capítulo 14 de The Search for the Perfect Swing, de Alastair Cochran e John Stobbs.

 

 

Edição: 

Veja também:

Honda Open – Aberto do Arujá: Pedro Nagayama, do São Fernando, vence de ponta a ponta Honda Open – Aberto do Arujá: Pedro Nagayama, do São Fernando, vence de ponta a ponta
Grande final do Embrase Golf Tour 2015 no São Fernando Golf Club Grande final do Embrase Golf Tour 2015 no São Fernando Golf Club
66º Aberto do Estado de SP acontece em Ribeirão Preto a partir de sexta 66º Aberto do Estado de SP acontece em Ribeirão Preto a partir de sexta
Embrase vai dar moto no maior evento de caddies do Brasil Embrase vai dar moto no maior evento de caddies do Brasil
© 2024 Jornal do Golfe. Todos os direitos reservados. XHTML / CSS Valid.
Toborino Software