Gole: Por que é tão difícil aprender quando somos adultos?

Foto: divulgação

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O jeito que treinamos e aprendemos mudou muito nos últimos anos e um dos fatores para esta mudança é a quantidade de pesquisas que mostram quais são as ferramentas mais eficientes na aprendizagem motora. Retenção é a palavra chave.

Praticar uma habilidade na segunda feira e conseguir repetir no sábado está diretamente ligado à sua aprendizagem e é fonte de frustração para os golfistas que fazem aula de maneira sistemática e no campo não conseguem repetir o que foi ensinado. O problema as vezes é do professor, mas em alguns casos é do aluno.
Mas como podemos ser melhores estudantes e melhores professores? 
Quando aprendemos algo intrinsecamente, é mais eficiente do que simplesmente ouvir o que tem que ser feito. Por exemplo, como você aprendeu a andar de bicicleta? Seus pais contrataram um professor especializado? Te mostraram vídeos de ciclistas profissionais? Você leu livros e artigos sobre o assunto e frequentou clínicas de “como andar de bicicleta”? NÃO! Seus pais provavelmente colocaram um capacete em você, empurraram um par de vezes e depois de alguns tombos você estava andando sozinho. Isso é uma aprendizagem intrínseca, quando você descobre por sua conta a melhor maneira de completar a tarefa.
Explicar e mostrar o que tem que ser feito é a pior forma de ensinar alguém uma habilidade e a retenção desta forma de ensino é muito baixa. Mas ajudar o aluno a encontrar a solução para o problema e levantar os questionamentos pertinentes para a descoberta intrínseca vai fazer com que seu aluno entenda e aprenda melhor o movimento.
O problema é que a nossa capacidade avaliativa está pouco desenvolvida na área física e principalmente no golfe e no treinamento físico. A ideia de que repetição gera aprendizagem é falsa. A repetição associada à análise e raciocínio sim. Quantas pessoas passam anos aprendendo a jogar e de repente encontram uma pessoa que em um par de meses já alcançou seu nível de aptidão? Por que algumas pessoas aprendem uma habilidade mais rápido que outras?
Vamos pensar no treino físico, como podemos melhorar a retenção e transferência para o swing. Na academia estamos constantemente distraídos por televisão, música e conversas paralelas. O aluno típico de academia chega de carro, senta numa bicicleta ergométrica ou andas na esteira sem a menor preocupação. Chega o professor e fornece um plano repetitivo e fácil de ser seguido sem muita assessoria. São exercícios em máquinas normalmente e alguns que ele chama de “funcional” em base instável ou simulando o esporte predileto do aluno. Mas se ao sair da sua sessão de academia alguém te perguntar: o que você aprendeu? como você ficou melhor? qual seria sua resposta? Sair cansado e acabado do treino não significa que foi bom. Qualquer um pode te dar uma “surra” no treino (no exército é chamado de recalque) mas te fazer melhorar nas suas atividades do dia a dia ou no seu esporte é diferente.
Fortalecer músculos isoladamente sem trabalhar a capacidade de controlar sua estabilidade ou equilíbrio durante o exercício é completamente inútil para a retenção. Gray Cook fez uma analogia perfeita no seu livro Movement: Functional Movement Systems: Screening, Assessment, Corrective Strategies.
Pense no seu corpo como um computador. Seu sistema muscular e ósseo é o hardware e seu cérebro e atividade neural de controle motor é seu softwareO cérebro humano funciona com padrões e hábitos repetitivos para economizar energia e poupar áreas deficientes. Comportamentos repetitivos se tornam padrões e para mudar esses padrões é preciso que ocorra uma reprogramação quando este se torna problemático (pensemos numa adaptação postural lesiva).
Quando o hardware de um computador é mudado, o software não se modifica automaticamente e consequentemente a melhora que aconteceu no hardware não é aproveitada com o software velho. Ao mesmo tempo, modificar sua mobilidade ou força múscular numa determinada região não vai produzir uma mudança na qualidade do movimento, a não ser que aconteça uma reprogramação do controle motor. Pensemos no golfe, todo o mundo tem a ideia de que ficar mais forte e mais flexível vai se traduzir automaticamente em mais distância. Errado… Ter melhores ferramentas ajuda a trabalhar melhor até certo ponto, mas se o seu cérebro não adaptar o novo movimento utilizando essas novas ferramentas (reprogramação) a transferência ao swing não vai acontecer.
Voltando aos atletas que aprendem com mais facilidade, podemos concluir que estes possuem melhor hardware, são fisicamente mais capazes, mas com certeza possuem melhor adaptabilidade de software. Nem todo atleta é perfeito fisicamente, na minha carreira avaliei inúmeros atletas que mal conseguiam tocar a pontas dos pés. Mas todo bom atleta é um bom compensador. Conseguem utilizar suas capacidades físicas e controlar o movimento de maneira analítica e consciente. Este tipo de aluno é o sonho de qualquer professor. É fácil ensinar assim!
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Então como podemos proporcionar um ambiente onde a sessão de treino na academia e no drive range sejam positivos no hardware e também no software?

Na academia:
  • Saia das máquinas de musculação e use mais os pesos livres e as polias onde você precisa controlar sua postura e equilíbrio ativamente.
  • Foque o treino em movimentos e não exercícios e repetições.
  • Mova seu corpo  tridimensionalmente e focado na qualidade do movimento e não na carga.
  • Evite usar espelhos para verificar a postura e exerça sua capacidade analítica de perceber mudanças posturais que podem afetar a estrutura.
  • Evite distrações como TV e música no treino para que toda sua atenção seja na tarefa.
No drive range e campo:
  • Fortaleça suas habilidades mentais tanto quanto suas habilidades técnicas. A criatividade, a capacidade analítica da jogada e seu “course management”.
  • Avalie cada tacada baseado no resultado e não na execução. Em vez de pensar nos ângulos, no grip e na postura, avalie o vôo da bola e tente entender o que causou aquele vôo e como pode ser melhorado.
  • Oriente seu treino na solução, não no problema
  • Trabalhe sua capacidade de responder e adaptar seu jogo após as batidas insatisfatórias. A capacidade de avaliar a causa da jogada ruim e limpar sua cabeça de pensamentos negativos é o que diferencia o jogador emocionalmente inteligente.
  • Compare suas sensações com o feedback que alguns equipamentos podem te proporcionar, usar plataformas de pressão, câmeras e radares podem ajudar muito neste processo.
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