Africa Madueño Alarcón, colunista do Jornal do Golfe, é a nova preparadora física da Confederação Brasileira de Golfe (CBG).
Formada em educação física na USP, ela é certificada em Golf Fitness Level III pelo Titleist Performance Institute (TPI), em Pilates for Golf nos EUA e em treinamento pelo American College of Sports and Medicine. Ela é pioneira no Brasil em treinamento físico de golfistas desde 2005, trabalhando desde então com atletas amadores e profissionais. É fundadora da antiga Golfepilates, agora rebatizada de GolfeFit.
“A intenção é criar uma mentalidade de atleta entre os golfistas, para que eles possam desenvolver sua independência e realizar sozinhos seus treinos, administrar bem o descanso e fazer o aquecimento e alongamento durante o período de treinamento e de competições”, diz ela sobre os atletas que atenderá do ranking nacional.
Veja abaixo uma entrevista sobre com Africa Madueño Alarcón.
Porque Golfe?
Eu escolhi trabalhar com golfe em 2005. Tinha acabado de me formar e estava buscando uma maneira de me destacar no mercado. Não queria ser mais um personal ou mais uma instrutora de Pilates, queria poder fazer a diferença na minha área e talvez atingir um nicho que tivesse deficiência de profissionais qualificados. Quando decidi me focar no golfe a primeira coisa que fiz foi voltar para a faculdade e ler o maior número de pesquisas científicas sobre lesões, treinamento e etc. Logo comecei a fazer aulas e a fazer a primeiras parcerias com profissionais. No início tive que enfrentar bastante preconceito por não ser golfista propriamente dito, mas aos poucos fui encontrando meu espaço.
Qual a importância para os golfistas?
O golfe é um esporte bastante lesivo pela sua natureza unilateral e a alta demanda de movimento repetitivo. O golfista amador muitas vezes sofre com a falta de técnica que prejudica o movimento e pode causar lesões. O jogador profissional por outro lado, sofre mais lesões causadas pelo excesso de treinos ou “overuse”. A preparação física portanto nos dois casos é completamente diferente. O amador precisa corrigir padrões de movimento e melhorar sua capacidade física geral e o profissional precisa adequar sua condição física para o nível de demanda que a carreira exige para evitar lesões a todo custo e aumentar a performance.
Para os jovens e mais idosos também?
Sim, tanto jovens como idosos se beneficiam da preparação física específica. O atleta juvenil ou pré juvenil precisa aproveitar as janelas de desenvolvimento ideais para inserir o treino de velocidade e potência no momento certo. Nesta fase a especialização precoce é um risco maior do que o benefício que ela traz. Vejo muitos atletas com menos de 15 anos já com sinais de desgaste (físico e mental) que poderiam ter sido evitados diminuindo a intensidade dos treinos e trabalhando a capacidade atlética geral com variação em outros esportes inclusive.
Os idosos por outro lado precisam entender que sempre há espaço para melhora. O corpo sempre responde ao estímulo e a diminuição da força e potência que acontecem no envelhecimento, apesar de inevitáveis, podem ser amenizados com o treinamento. O jogador sênior pode sim ganhar mais distância melhorando a mobilidade e estabilidade geral, mas principalmente trabalhando a coordenação e controle motor. Nunca é tarde para jogar seu melhor golfe.
Qual a importância do aquecimento antes do jogo?
O aquecimento já foi comprovado em inúmeras pesquisas científicas que é um fator essencial na prevenção de lesões em campo e na geração de velocidade. O aquecimento não tem somente a função de preparar a musculatura para a atividade, mas também de preparar o controle neural. A eficiência da coordenação do movimento depende de controle neuromuscular. Músculos e articulações flexíveis e saudáveis não vão produzir automaticamente movimentos saudáveis, porque movimento depende de coordenação, equilíbrio e controle. Aquecer não só previne lesões, mas permite que seu cérebro libere toda a potência que seus músculos podem produzir. Tem a ver com segurança e com eficiência. Mesmo assim muitos golfistas ainda não aquecem antes do jogo. Lembrando que a gente aquece para fazer o swing e não faz swing para aquecer.
Quais as principais lesões dos golfistas? Como tratar?
A lesão de ombro e lombar são as mais comuns, mas cotovelo, joelho e quadril também aparecem muito. Antes de pensar em tratar prefiro sugerir prevenir, e a gente pode prevenir as lesões mantendo o corpo com boa saúde articular. Mobilidade e estabilidade, equilíbrio, forca e coordenação são essenciais para manter as lesões longe.
Essas lesões aparecem por diversos motivos. Excesso de treino, desequilíbrios estruturais (as compensações) impacto… as razões são muitas. O tratamento também depende da lesão, mas o que devemos ter em conta é que nem sempre o local da dor é o local da origem da lesão. Por exemplo, a dor de joelhos pode ser caudada por um desequilíbrio no tornozelo ou pela fraqueza da musculatura do quadril. O importante é sempre investigar a origem da lesão e tratar o corpo como um todo. Sarar a dor não significa que o jogador se livrou da lesão. A dor é um aviso que o corpo nos dá e que devemos prestar atenção.
Como é o trabalho com golfistas do ranking e da CBG?
Os jogadores que forem selecionados para a equipe de alto rendimento da CBG devem passar por uma bateria de testes físicos, técnicos e comportamentais. Cada jogador será tratado individualmente e será montado um plano de ação em conjunto com o Coach Nacional (Luiz Miyamura) e com os outros profissionais envolvidos no desenvolvimento do atleta (personal, fisioterapeuta, psicólogo).Os jogadores devem cumprir sua parte do compromisso e isso será base para a seleção assim como a performance. O objetivo da parte física com os atletas é dar as ferramentas necessárias para que cada um possa treinar de maneira segura e eficiente para assegurar o melhor resultado em campo. Atletas lesionadas, exaustos ou desmotivados não conseguem dar 100% de si, queremos evitar que chegue a isso ensinado a eles estratégias para achar o equilíbrio entre treino eficiente e descanso adequado. Queremos que cada um crie uma independência como atleta para que possam administrar no futuro seu treino físico e técnico, sem depender tanto de profissionais, já que no Tour poucos jogadores conseguem ter uma equipe multidisciplinar seguindo seus passos.
Qual os planos para o trabalho da CBG?
Em breve teremos um evento onde os atletas serão informados sobre as novas diretrizes para estar na equipe da CBG e quais serão os requisitos exigidos deles. Por enquanto posso garantir que a partir de agora a CBG vai oferecer um programa de qualidade, com planejamento e trabalho em equipe, mas também vai cobrar um comprometimento por parte dos atletas.